Capítulo 28








– Chris

O motorista estacionou dentro do condomínio. Agradeci pela carona e subi com Zoe até nosso andar. Já deviam ser uma hora da manhã e eu só precisava de um bom banho quente e minha cama macia. Tinha certeza que ia passar a noite chorando, abraçada no travesseiro.

Abri a porta e respirei o cheiro do perfume de Harry. Acho que ele não tinha vindo aqui, mas eu podia sentir sua presença de alguma forma.

– Hey, Otto! Você está bem, bebê? – me agachei e acariciei sua grande extensão de pelo macio. – Otto? – senti meu coração apertar quando ele fechou os olhos lentamente. Meus olhos se arregalaram, cheio de lágrimas. – Você só está dormindo, não está? – senti minha voz embargar e puxei a parte do seu pescoço para meu colo. Por que eu não tinha coragem de colocar a mão em seu peito para sentir as batidas do coração? Talvez por que eu tinha medo de não senti-las ali. – Você ficou cansado de tudo? Como eu? – perguntei em meios as lágimas. – Se você cansou… Não se deixe abater agora. Eu também estou cansada de muita coisa, mas não posso ir embora. Tem tanta gente que me ama aqui, assim como você quer ir embora e eu ainda te amo. Otto? Otto, por favor, me faça algo!

Otto continuou apagado em meu colo.


FlashBack –

Mas agora é serio! - Harry  disse sério. -Eu te trouxe aqui porque você é muito especial pra mim. – ele dizia de um jeito nervoso, eu achava tão fofo quando ele quase gaguejava. – Em três dias nos conhecemos e eu me apaixonei perdidamente por você. Eu nunca fiquei tão ... Como eu posso dizer ? - Harry pensava - Tão feliz e completo ao lado de alguém. E é por isso ... - ele se virou e fez sinal para um garçom que observava de longe, que saiu para buscar ou fazer algo. - ...Que eu quero te pedir uma coisa, mas agora é oficialmente! - o garçom soltou um filhotinho de labrador com um laço vermelho no pescoço e um envelope na boca.

Ele vinha em direção a nossa mesa e era tão fofo!

Ai meu deus, que fofo! – ele sentou ao meu lado e me deu a patinha.
Pega ! – Harry disse sorrindo pra mim.

Peguei o filhotinho no colo e tirei o envelope de sua boca. Demorou um pouquinho porque ele não queria soltar e acabou virando uma cena mais cômica do que romântica. Com muito esforço consegui tirar o envelope e o abri. Havia escrito com a letra do Harry : " Aceita namorar comigo? E assumir pra todos ?"

Meus olhos automaticamente se encheram de lágrimas e uma escapou sem eu perceber. Abracei o filhote bem apertado tentando esconder minhas lágrimas e lambeu minha mão, parecendo entender o que acontecia.

FlashBack – OFF

– Não me deixa, Otto. Por favor. – beijei o topo da sua cabeça e fechei os olhos. Escutei a maçaneta abrir e vi Harry acabando de chegar. Ele olhou pra Otto em meu colo e logo depois pra mim. Seu semblante desmanchou de forma instantânea e ele já sabia tanto quanto eu que aquilo não tinha mais volta. Há tempos Otto estava perambulando por aí, sem mais energias. – Harry, eu quero levá-lo ao veterinário!
– Chris, calma, tá tudo ok. – ele se ajoelhou e me abraçou. Otto tombou pro lado, sem corresponder mais nada.
– Otto! – minha garganta ardeu, mais lágrimas desceram, tentei pegá-lo novamente, mas Harry me puxou de volta pro seus braços.
– Vamos subir. Eu vou levá-lo ao veterinário.
– Harry, faça-o acordar! Faça, por favor!
– Eu vou fazer.
– Faça agora! – Harry me carregava escadas a cima. Desespero, agonia, era tudo muito intenso. – Eu quero ficar lá embaixo, faça ele acordar! – ele nos trancou dentro do quarto. Escorreguei sob a cama e olhando para o teto, desmoronei um rio de lágrimas que já me sufocavam há horas.
– Eu sinto muito. – Harry acariciou meu rosto e beijou minha testa por um longo tempo, ternamente. – Ele te amou desde o início, pra onde quer que ele vá, ele estará te amando mais.

Solucei mais forte e fechei os olhos. Harry saiu e fechou a porta. Ainda tinha vários nós preso na garganta, agora meu chão desmoronava de vez.


– Harry S.

Desci as escadas e encontrei Otto ainda adormecido. Abri a porta, separei a chave do carro e me preparei para pegá-lo nos braços. Ele já era adulto, estava forte e pesado. Em pé, ele já deveria estar no meu tamanho.

– Eu só espero que você esteja fazendo mais uma de suas brincadeiras comigo, amigão. Não quero que você vá embora. – falei enquanto entrava no elevador.

No carro estava um silêncio estranho. Até porque era estranho estar com Otto e não ouvi-lo latir. Ele ainda estava apagado no banco de trás, aquelas patas gigantescas e as orelhas arriadas daquele jeito quando ele dorme. Não importa que pareça estranho quando eu fale, mas ele é fofo. Otto não é um simples cachorro, ele é O cachorro, e a vida sem ele não tem graça alguma. Por mais que ele coma minhas cuecas ou roa meus sapatos, eu ainda o amo.

– Vai ficar tudo bem. Ainda vamos rir disso tudo. – dei um beijo perto da sua orelha e o peguei nos braços novamente. Fechei a porta do carro e o levei para dentro da emergência do veterinário.
– O que posso ajudá-lo, senhor?
– Oi, eu… Olha, meu cachorro está inconsciente, por favor, me ajuda.
– Pode seguir com ele até aquela sala, a doutora está livre.
– Obrigado.

Tentei andar o mais rápido que pude. Otto estava muito, muito, pesado. A doutora me recebeu e pediu que eu o colocasse na mesa de ferro no centro do consultório.

– Sabe dizer o que ele teve? – ela perguntou enquanto colocava as luvas brancas.
– Eu não sei, eu só encontrei minha noiva chorando em cima dele no nosso apartamento.
– O que ele comeu hoje? – ela começou a apalpá-lo parte por parte.
– Provavelmente ração e alguma mobília da casa. – ri. – Sabe, ele come muita coisa.
– Entendo. – ela sorriu. – Também tenho um labrador. Mas olha, o caso não é bem o que eu imaginava. Ele realmente já atingiu a idade dele. Dá pra ver por essas manchinhas na pata. – ela me mostrou. – Creio que ele esteja desmaiado, vou achar um dos melhores remédios pra isso.

Suspirei mais aliviado e sorri.

– Mas isso não quer dizer que seja uma boa notícia, Harry Styles. – ela disse extremamente séria. – Otto não vai durar pra sempre e talvez não dure uma semana. Desculpe ser franca.
– T...Tudo bem.
– Os remédios que ele precisa tomar são extremamente fortes. Ele vai ter muitas reações. Eu tenho que ser sincera em dizer que ele vai sofrer a cada dosagem. É a idade, ela já está avançada. Você me entende? – ela me olhou piedosa.

Eu nunca imaginei que fosse sofrer tanto por um cachorro. Nunca imaginei que um dia, algum, significaria tanto pra mim. Porque agora, meu coração só sabia doer.

– Eu sinto muito, Harry. Mas você vai precisar fazer uma escolha consciente para a vida do seu animal de estimação. Por mais que ela seja cruel.
– Eu realmente gosto desse cachorro. – me encostei ao lado de Otto e os olhos pesaram de lágrimas. – E eu sei o melhor pra ele, se for pra ele não sofrer. – cocei as pálpebras, me impedindo de chorar. Vi Otto despertar um pouco, apenas seus olhos se entreabriram um pouco. – Hey, garotão! – rapidamente me agachei perto da mesa e acariciei suas orelhas. Ele abanou o rabo, como sempre correspondia, só mais fraco e cansado. – Você acredita que a Chris está chorando por você? É, é verdade. Você sabe que aquela durona nunca chora. Você é muito especial pra ela. A Zoe também deve estar morrendo de saudade de puxar seu rabo. – ri relembrando. – E eu quase te matei naquele dia que você mostrou os dentes pra ela. Depois Christinne disse que isso era só estresse de um velho gagá e eu acabei rindo. – Otto apenas me ouvia. – Você deve ter achado que eu te odiava esse tempo todo, de tantas vezes que briguei por você sempre pular em cima da Christinne quando estávamos namorando. Mas… Eu preciso fazer uma confissão, rapaz: Eu só sentia ciúmes, tá? Não era nada pessoal. – prendi sua coleira em meus dedos enquanto brincava com os pelos em volta. – Você foi o único cara por quem Christinne nunca teve uma decepção, você sempre foi um ótimo companheiro. Ela nunca vai… – então parei quando percebi que ele já tinha fechado os olhos novamente. Coloquei o ouvido em seu peito. Mais nada batia ali. Me permitir chorar, algo que eu já queria fazer desde que o vi desacordado. – … Se esquecer de você. – completei depois de me recuperar.

Suspirei e o abracei longamente.

– Harry, eu sinto muito. Era a hora dele, ele vai estar bem desse jeito. – a doutora falou ao meu lado.

[ . . . ]

Assim que fechei a porta, o peso de dor caiu sob os meus ombros. Agora eram quatro da manhã, pensei em todo tipo de palavra, mas nenhuma pareceu confortante o suficiente para dizer a Christinne que Otto se foi.

Subi as escadas, sem fazer muito barulho, e adentrei o quartinho de Zoe.

– Papai?
– O que você está fazendo acordada? – andei até o berço e ela esticou os braços pra mim. – Não, sem colo. É hora de você estar dormindo. Deite aí! – ordenei, mas ela permaneceu sentada no berço. – Zoe, deita! É pra mimir, abraça o seu ursinho, vai lá!
– Quero mamãe!
– Mamãe está mimindo! Assim como você também deveria.
– Mamãe mimiu? – ela fez aquele olhinho de curiosa que eu amava tanto.
– É, a mamãe mimiu.

Por que eu ainda conversava com ela? Isso ainda era pior, eu começava a ficar com pena e já queria pegá-la no colo.

– E agora o papai também vai mimir. Você vai mimir?
– Eu vou mimir. – ela sorriu e abraçou o ursinho. – Tchau, papai!

Ri e acenei saindo do quarto. Zoe é tão comédia que as vezes eu esqueço dos problemas.

Abri a porta do segundo quarto. Christinne estava sentada na cama, com os joelhos encolhidos e encarando os porta retratos em volta, por todas as paredes. Assim que fechei a porta, ela se desligou do próprio mundo e me olhou de um jeito significativo e triste, como se perguntasse aquilo que eu já esperava que viesse dela. Apenas balancei a cabeça.

– Sinto muito. – falei me aproximando.

Christinne escondeu o rosto entre os joelhos e chorou mais. Puxei-a para se deitar em meu peito e tirei algo do bolso.

– Foi tudo que pude trazer de Otto. – disse entregando a coleira de couro velha e rasgada que estava em seu pescoço quando o levei ao veterinário. – A doutora disse que esse era o melhor pra ele, mas eu sei que o melhor pra ele somos nós. Então não apague nenhuma lembrança com medo de sofrer, ele ainda quer estar ao nosso lado. Tudo bem?

Ela assentiu e me abraçou mais forte.


* No dia seguinte *

– Chris

Já estava em tudo quanto é lugar da Internet: Morreu nessa madrugada, o cachorro da cantora Christinne. Os fãs paralisaram Redes sociais para prestar homenagem ao querido animal de estimação da raça labrador.

Eu queria esquecer, pular esse episódio sombroso da minha vida, mas onde quer que eu olhasse, lá estava uma foto de Otto. Eu sei que não devia apagá-lo da minha vida, como Harry tinha dito, mas estava me ferindo pouco a pouco.

Ontem foi uma das piores noite. Sou grata por Harry ter estado comigo naquele momento, mas sabemos que fora isso, nossa relação está trêmula. E quando toda aquela situação passasse, nós acabaríamos lembrando do que tinha acontecido antes e deve ter sido esse um dos motivos pra ele ter saído cedo.

Também não ia ficar dentro do apartamento, eu tinha que resolver algo mais importante, pois eu tinha ciência de que o casamento era daqui há 24hs. E casar sabendo de todas as dificuldades que estavam circundando nosso relacionamento seria cometer o maior erro da minha vida.

Por isso, eu iria adiar. Talvez pra semana que vem ou pra Nunca.

Encontrei com mamãe em uma cafeteria do centro. Foi um erro ter contado sobre a decisão, é óbvio que ela surtou. Era mais um motivo pra ela jogar na minha cara que desde o início ela tentou me avisar que todo esse “amor” era só fogo de palha e logo ia cessar. Ainda éramos jovens e estávamos despreparados demais pra tanta responsabilidade.

– E agora? O que vai ser? – ela recolou a xícara na mesa e me encarou.
– Eu não sei, mãe! Eu só não quero fazer algo só por aparência, não tem nada bom acontecendo, eu não posso casar só porque existe um prazo pra isso.
– Posso falar uma coisa, querida?
– E vai adiantar eu dizer que não? – dei de ombros.
– Harry não está preparado pra nada disso. – ela me olhou nos olhos. – Se ele fosse bom o suficiente, não teria deixado as coisas chegarem aonde chegou. A ponto da própria noiva querer adiar o casamento. Onde existe isso, meu Deus?

Fosse bom o suficiente… Isso não ia sair da minha cabeça.

– Com certeza só existe comigo. Talvez eu é quem não seja boa o suficiente. – abri a carteira e deixei as notas sobre a mesa. – Talvez é que não era pra acontecer. Só isso. – levantei e beijei sua testa. – Até mais, eu preciso ir. – coloquei os óculos e parti.






Vas Happenin?
Otto se foi... :(
Casamento vai ser cancelado, e agora?
Hmm... O próximo sai em breve.
Malikisses, Biiia.







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